quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Memórias de uma Infância Mágica e Inesquecível

Um minutinho de sua atenção, por favor. Costumo publicar aqui textos de famosos. Porém hoje um outro me chamou atenção. Escrito pela aluna da mamãe, que está apenas na sétima série, melhor até que alguns escritores de renome e que de vez enquando dão um pulinho na Ilha de Caras. Vale a pena ler!

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Tranqüilidade, calma, clima ameno. Características da minha cidade, do bairro, da rua. Naquele tempo, as pessoas não tinham pressa nenhuma, com exceção das que perdiam constantemente o bonde. Minha rua era simples e não muito movimentada. Eu era um garoto humilde e isso era o suficiente para me deixar feliz. Lembro-me que na esquina havia uma guarita, onde três policiais se mantinham vigilantes. Eu os observava durante horas e os copiava nos gestos e no jeito. Queria ser um deles. Uma profissão perigosa. Mesmo tendo vigilantes atentos, às vezes apareciam uns gatunos por lá. Além disso, eu adorava a idéia de proteger as pessoas. Ficaria orgulhoso em resguardar a dona Rosinha, o seu Sebastião, o Português da padaria, o senhor Loyola (acho que todos já são falecidos hoje).

Adorava brincar com os amigos. Jogávamos bola, batíamos cartas, brincávamos com bolinhas de gude, de pique, com carrinho de rolimã (feitos por nós mesmos), andávamos de bicicleta, soltávamos pipa, pião... Gostávamos de brincar em um pontilhão, perto de casa. Passar por cima de um córrego, sem nos molhar, era algo sensacional para crianças inocentes. Jogávamos bola em uma ribeira, perto do regato e sempre cortávamos o pé em cacos de vidro abandonados no chão. Deitávamos por ali mesmo e ficávamos vendo os aviões passarem. Adorávamos correr. Às vezes, corríamos com medo da repreensão dos vizinhos, depois de "fazer arte", como dizia a mamãe, ou quando perseguíamos os gatos que lá na rua moravam, com a intenção de assustar os bichanos.Na rua, o chão era de terra e as casas eram antigas já naquela época. Não havia muita iluminação à noite; usávamos lampiões. Eu adorava o domingo. Era dia de ir à capela e de comer paçoca, aquelas vendidas na rua.

A escola era pequena e pouco freqüentada. Os professores eram rígidos (e cruéis). No castigo, os joelhos sofriam no milho, a visão era voltada para a parede ou ficávamos atrás da porta. Não podíamos reclamar de nada. O clima era insípido, mas o ensino era bom.Namoradas? Só depois dos quinze... Essa era uma das regras que eu menos respeitava. Tinha uns casos com umas garotas mais velhas da escola, mas nada passava do portão. Considerávamos namorados ao pegar na mão, beijar no rosto... Tinha sorte por minha escola ter estudantes de sexos diferentes, pois não era muito comum.Amava ouvir os jogos de futebol pelo radinho pequeno e velho do meu pai. Gostava das novelas também, mas meus pais não deixavam. Diziam que era coisa de meninas... Eu corria do cinto, quando eles me pegavam ouvindo uma.

O tempo passou e eu tive várias profissões, mas nenhuma delas foi de vigilante. Tudo mudou. Tudo mudou muito. A evolução daquela época até hoje pode ser observada sob vários pontos de vista. Mas em minha opinião, Antônio Francisco, um velho cansado e vivido, as boas lembranças daqueles tempos são insubstituíveis. E acho que assim vai ser daqui a cinqüenta anos, quando meus netos poderão contar aos seus filhos, assim como eu faço agora, as suas queridas memórias de uma infância mágica e inesquecível.

Mariana Geada Cavalieri

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