sábado, 6 de dezembro de 2008

Vou-me Embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


Manuel Bandeira

Um comentário:

A Space Odissey disse...

Nobre Bandeira! De maneira poética expressou o grito das dores da sua própria alma! Mas nem assim acho que as coisas se tornam mais belas. Na verdade, sucede o contrário. Explicando: "para fugir das suas limitações e realizar os seus desejos ele cria ilusões. Esse fato, acredito eu, torna a história infeliz para o autor". No entanto, são os sonhos que fazem florescer a esperança, ou que nos levam oxigênio para respirar na realidade rarefeita. Nisso há beleza. Isso é importante para todos nós.

Só filosofando um pouquinho, Tutti! Uma passada bem rápida agora que estou no quarto-escritório estudando. Beijão!
tum tac... bela

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