quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Ópera do Malandro

TERESINHA
O amor não tem fronteiras. O amor destrói barreiras.
Só o amor constrói. E nós vamos contruir um bangalô
em Teresópolis! (Sobe as escadas cantarolando)

DURAN
Onde foi que ela ouviu tanta cretinice?

VITÓRIA
Aqui em casa é que não foi.

DURAN
Nunca demos mal exemplo.

VITÓRIA
É. Só pode ser influência dessas malditas novelas da
Rádio Nacional.

DURAN
Eu atiro esse rádio pela janela!

Teresinha desce com a mala

VITÓRIA
Teresinha, duas pessoas podem até se amar que nem
nas novelas. Só que na vida real, se você ama uma pes-
soa, é lógico que não vai casar com ela. Casa com qual-
quer outro. Veja teu pai e eu. Como é que esse casa-
mento durou esse tempo todo? Aqui ninguém ama nem
desama.

DURAN
Nem fede, nem cheira.

VITÓRIA
Nem bate, nem alisa. Então é casamento pra vida in-
teira. É pão pão, queijo queijo. É um tijolo.

DURAN
É sólido como um banco.

VITÓRIA
Porque ninguém suporta os defeitos da pessoa amada
por mais de um fim de semana em Paquetá. Depos a
pessoa amada vai ficando é muito chata. O amor vai
virar exigência e exigência vai virar frustração que vai
virar rancor qie vai virar ódio e o ódio vai ser mortal.
Aí não tem perdão, Teresinha. Só se perdoa a quem
não se ama.

A orquestra ataca em ritmo de valsa
Teresinha canta "Teresinha"
O primeiro me chegou
Como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia
Trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens
E as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio
Me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada
Que tocou meu coração
Mas não me negava nada
E assustada eu disse não
O segundo me chegou
Como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente
Tão amarga de tragar
Indagou o meu passado
E cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta
Me chamava de perdida
Me encotrou tão desarmada
Que arranhou meu coração
Mas não me negava nada
E assustada eu disse não
O terceiro me chegou
Como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada
Também nada perguntou
Mal sei como ele se chama
Mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama
E me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro
E antes que eu dissesse nãp
Se instalou foito posseiro
Dentro do meu coração
A orquestra silencia
Trecho da Cena 3 - Ópera do Malandro - Chico Buarque

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